
9 livros para estudar história nas férias de julho
As férias escolares do meio do ano, muito aguardadas pelos estudantes, estão chegando! E o período representa o momento ideal para descansar, viajar, rever amigos e familiares, além de concentrar-se nas metas de estudo. Muitos jovens, nos anos finais do Ensino Fundamental, ou aqueles que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os vestibulares mais concorridos do país, aproveitam esse tempo livre para a revisão de conteúdo.
A leitura pode ser uma forma leve e prazerosa de mergulhar em contextos históricos, desenvolver senso crítico e ampliar o repertório cultural — tudo isso sem renunciar ao descanso. “Durante as férias, a leitura de obras literárias com conteúdo histórico permite ao estudante refletir sobre o passado com mais empatia, interesse e envolvimento”, afirma Ana Paula Aguiar, professora e autora de História do Sistema de Ensino pH.
Segundo Raphael Amaral, professor e autor do Sistema Anglo de Ensino, a leitura de obras literárias de relevância histórica não deve ser encarada como uma alternativa ao estudo tradicional, mas como um complemento essencial à rotina de aprendizagem. “Os estudantes não devem escolher entre estudar e ler um livro. Não pode ser entendido como uma bifurcação, pois é sempre na mesma estrada em que as duas ações caminham juntas”, afirma.
De acordo com os especialistas, romances históricos podem ser excelentes aliados de uma aprendizagem significativa. Confira a lista de livros selecionados por professores que unem literatura, história e entretenimento, para estudantes do Ensino Fundamental II, Médio e vestibulandos:
1. As Meninas, de Lygia Fagundes Telles (1973)

Recomendado por Ana Paula Aguiar e escrito pela brasileira Lygia Fagundes Telles, o livro acompanha a vida de três jovens universitárias — Lorena, Ana Clara e Lia — que compartilham um pensionato em São Paulo durante a Ditadura Militar. Cada uma enfrenta dilemas pessoais e sociais, como repressão política, drogas e conflitos familiares. A narrativa entrelaça suas vozes, revelando angústias e desejos em meio à opressão da época.
2. Canção para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo (2018)

Ana Paula Aguiar também recomenda a obra, escrita pela brasileira Conceição Evaristo, que nos conduz por uma narrativa que expõe as feridas deixadas pela escravidão, o peso do racismo estrutural e as contradições da masculinidade no Brasil. Por meio da história de Fio Jasmim e das mulheres que o cercam, a autora constrói um retrato íntimo e ao mesmo tempo coletivo das subjetividades silenciadas ao longo da história.
3. Oliver Twist, de Charles Dickens (1838)

De autoria do inglês Charles Dickens, o livro indicado por Ana Paula Aguiar narra a trajetória de um órfão que enfrenta abusos, pobreza e exploração nas ruas de Londres. Ao longo da história, Oliver busca dignidade e amor, mesmo cercado por criminosos e injustiças sociais. A obra critica as condições das classes desfavorecidas na Inglaterra vitoriana.
4. Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva (2015)

A obra, que recentemente ganhou a versão adaptada para o cinema e recebeu três indicações ao Oscar, levou a estatueta de Melhor Filme Internacional de 2025. “O livro mistura memórias pessoais e História do Brasil ao narrar a trajetória de Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, desaparecido político durante a Ditadura Militar brasileira. A obra resgata a repressão, o silenciamento e os impactos dessa violência estatal nas famílias, oferecendo um olhar sensível e crítico sobre esse período da história recente do Brasil”, comenta Raphael Amaral.
5. 1984, de George Orwell (1949)

De acordo com Raphael Amaral, esse é um clássico distópico que retrata um regime totalitário em que o Estado controla todos os aspectos da vida dos cidadãos, inclusive o pensamento. Escrita após a Segunda Guerra Mundial, a obra funciona como um alerta contra regimes autoritários, a vigilância extrema e a manipulação da verdade, temas que continuam atuais em debates sobre democracia e liberdade.
6. O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório (2020)

Segundo o Raphael Amaral, este livro “apresenta, por meio de uma narrativa intimista e potente, a história de um filho que revisita a vida do pai, professor negro morto em uma abordagem policial. Ambientado no Brasil contemporâneo, o romance discute racismo estrutural, relações familiares, identidade e violência policial, revelando a persistência de desigualdades históricas no país”.
7. Maus, de Art Spiegelman (1986)

O autor, filho de sobreviventes de campo de concentração, nascido em Estocolmo em 1948 e educado nos EUA, começou a desenhar quadrinhos aos 16 anos. Reconhecido mundialmente, ganhou o Pulitzer e foi indicado ao National Book Critics Circle por “Maus”, obra autobiográfica que retrata o Holocausto e a luta dos judeus poloneses para sobreviver, usando quadrinhos, gênero atraente para estudantes.
De acordo com Luiz Cláudio de Araujo Pinho, professor de Filosofia e Sociologia e autor da Rede Pitágoras, por tratar de temas delicados, é mais recomendada para 8º e 9º anos, últimos anos do ensino fundamental, pois é importante contextualizar bem as situações, com apoio das informações históricas apresentadas no livro didático.
8. Entre 3 mundos, de Lavínia Rocha (2022)

A autora, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, é escritora, palestrante, professora, revisora, leitora crítica e de sensibilidade. Começou a escrever ainda criança, aos 11 anos, e já publicou vários livros, mas com a trilogia “Entre 3 mundos” mostrou grande conhecimento da formação social e cultural do nosso país.
Segundo Luiz Cláudio de Araujo Pinho, a autora ressignifica os temas e conflitos da nossa sociedade para leitores a partir de 12 anos, ou seja, uma leitura que pode ser feita a partir do 6º ano do Ensino Fundamental e que pode ser utilizada para abordar vários temas até o 9º ano.
“A autora aborda questões sociais muito profundas que são tratadas pela trama e que podem ser ampliadas na sala de aula como cidadania, participação política, questões étnico-raciais, direitos humanos, movimentos sociais, lutas sociais de negros e mulheres”, completa.
9. Persépolis, de Marjane Satrapi (2000)

Marjane Satrapi, aos 10 anos, testemunhou o início da revolução islâmica que instaurou um regime xiita no Irã em 1979. Vinte e cinco anos depois, narrou sua experiência na história em quadrinhos “Persépolis”, misturando cultura pop, história e drama. Para Luiz Cláudio de Araujo Pinho, além de emocionar o leitor, a obra vai deixar os estudantes interessados porque as situações são mostradas do ponto de vista de uma garota que vai amadurecendo e se tornando mulher conforme a história se desenrola.
A linguagem é divertida e cabe muito bem para 8º e 9º anos do ensino fundamental. “Os professores podem abordar temas como diversidade cultural, gênero, violência contra a mulher, islamismo, alteridade, direitos humanos, regimes políticos, cidadania etc.”, finaliza.
Por Laura Ragazzi