Até as formigas podem guardar rancor

Até as formigas podem guardar rancor

Quando pensamos em rancor, provavelmente imaginamos uma característica humana. Contudo, novas descobertas mostram que até as formigas – aquelas pequenas trabalhadoras incansáveis – podem guardar lembranças de encontros desagradáveis e agir de acordo. Um estudo conduzido por biólogos evolucionistas da Universidade de Freiburg, na Alemanha, revelou que esses insetos não apenas dependem de seu olfato apurado para identificar membros de sua colônia, mas também têm memória de interações hostis com outras formigas.

As formigas utilizam seu olfato para distinguir entre membros de sua própria colônia, considerados “seguros”, e intrusos de colônias rivais. Durante a busca por alimento, esse reconhecimento é crucial para saber quem está ali para colaborar ou competir pelos mesmos recursos. Contudo, o estudo publicado na revista Current Biology mostra que o comportamento das formigas vai além do momento presente. Elas lembram de confrontos anteriores e ajustam suas atitudes em encontros futuros.

O experimento

Os cientistas realizaram dois experimentos principais para avaliar como as formigas reagem a experiências negativas. Na primeira fase, os insetos foram colocados em situações de interação de 60 segundos:

  1. Encontrando membros de sua própria colônia.
  2. Interagindo com formigas agressivas de outra colônia (chamada “Ninho A”).
  3. Encontrando outro grupo de formigas hostis, desta vez do “Ninho B”.

Essas interações foram repetidas durante cinco dias consecutivos. Posteriormente, os pesquisadores observaram como as formigas se comportavam ao reencontrar as formigas agressivas do Ninho A. Os resultados foram claros: as formigas demonstravam maior hostilidade contra aquelas que associavam a encontros ruins no passado, enquanto se mostravam mais calmas ao cruzar com formigas de colônias mais passivas.

 

Formigas aprendem com a experiência

“Frequentemente temos a ideia de que os insetos funcionam como robôs pré-programados”, explica Volker Nehring, pesquisador e coautor do estudo. “Nosso estudo fornece novas evidências de que, ao contrário, as formigas também aprendem com suas experiências e podem guardar rancor.”

As brigas entre formigas não envolvem apenas atitudes hostis, mas também batalhas físicas intensas. Utilizando suas mandíbulas afiadas, esses confrontos podem escalar a ponto de as formigas liberarem ácido fórmico como forma de defesa. Embora o ácido possa ser letal para as próprias formigas, os pesquisadores garantiram que as brigas fossem interrompidas antes de chegarem a um nível fatal.

O aprendizado associativo no mundo das formigas

Os cientistas concluíram que o aprendizado associativo desempenha um papel central na formação de padrões de reconhecimento entre companheiros de ninho e inimigos. A agressão serve como um estímulo incondicionado, provavelmente associado aos odores dos adversários. Essa habilidade de aprendizado ajuda a explicar a variação nas respostas das formigas a diferentes estímulos, como a agressividade direcionada a vizinhos mais problemáticos.

Outro ponto fascinante levantado pelos pesquisadores é que as formigas podem aprender classificadores olfativos para identificar inimigos específicos. Isso pode ser essencial para ajustar suas respostas defensivas de forma personalizada contra intrusos de colônias rivais.

O que vem pela frente

Os biólogos agora desejam explorar mais a fundo o papel dos receptores olfativos das formigas. A ideia é compreender até que ponto essas interações podem moldar o comportamento e as estratégias defensivas das colônias.

Este estudo não apenas destaca a complexidade das formigas, mas também nos faz refletir sobre o quanto ainda temos a aprender sobre esses pequenos, mas incrivelmente sofisticados insetos. Afinal, até mesmo um dos organismos mais simples do reino animal pode carregar traços de comportamento social que nos surpreendem.

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