
Veja os riscos e como evitar a adultização das crianças
A adultização e a exploração de crianças na internet ganharam destaque nos últimos dias, após uma denúncia em vídeo feita pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca.
“Cada vez mais vemos crianças vestidas, maquiadas ou expostas em situações que não condizem com a fase da vida delas. Esse fenômeno, chamado de adultização, não é inofensivo: ele pode comprometer o desenvolvimento emocional e aumentar a vulnerabilidade para traumas no futuro”, alerta Maíra Roazzi, psicóloga especialista em trauma e desenvolvimento infantil.
O que é adultização das crianças?
A adultização é o processo pelo qual a criança passa a ser tratada como mais madura do que realmente é, sendo exposta, incentivada ou pressionada a adotar comportamentos, conhecimentos ou aparências típicos de adultos, antes de estar emocional e cognitivamente preparada para isso.
Principais manifestações
- Sexualização precoce: manifesta-se no uso de roupas, poses e maquiagens com conotação adulta, além da exposição a conteúdos digitais que não são adequados para a idade;
- Exposição prematura a conhecimentos adultos: presenciar discussões conjugais, conversas sobre sexualidade sem preparo adequado, violência doméstica ou social, ou conteúdos midiáticos impróprios para a idade;
- Pressões estéticas e de performance: busca pelo corpo “ideal”, comparações em redes sociais, exigências acadêmicas desproporcionais, competitividade excessiva;
- Expectativas comportamentais inadequadas: exigir autocontrole emocional de adulto, assumir que a criança “deveria saber” sobre temas complexos, negar proteções típicas da infância.
A psicóloga Maíra Roazzi alerta para os impactos psicológicos que a adultização pode trazer para os pequenos. “A adultização interfere diretamente no processo natural de desenvolvimento emocional e social da criança. “Quando uma criança é forçada a ‘crescer’ antes da hora, ela perde etapas fundamentais de formação da personalidade e da autoestima”, complementa.

Consequências da adultização das crianças
- Confusão de papéis: a criança perde a referência de sua posição no desenvolvimento, internalizando expectativas inadequadas para sua faixa etária;
- Maior vulnerabilidade a abusos: especialmente quando há sexualização precoce ou negação das proteções naturais da infância;
- Impactos acadêmicos e sociais: desengajamento escolar, isolamento social, maior probabilidade de envolvimento com sistema de justiça juvenil.
Desenvolvimento de problemas de saúde mental
- Ansiedade e depressão precoce;
- Baixa autoestima e distorção da autoimagem corporal;
- Dificuldade para estabelecer limites pessoais;
- Comportamentos de risco na adolescência;
- Problemas de relacionamento na vida adulta.
Como evitar a adultização
A psicóloga destaca a importância de prevenir o problema. “É fundamental resgatar o direito de ser criança. Isso significa priorizar brincadeiras, convivência com pares da mesma idade e atividades lúdicas apropriadas para cada fase do desenvolvimento”, orienta Maíra Roazzi.
Recomendações para pais e cuidadores:
- Proteção digital: limitar a exposição a conteúdos inadequados e monitorar uso de redes sociais;
- Respeito ao desenvolvimento: reconhecer e respeitar o ritmo natural de crescimento emocional, social e físico da criança;
- Comunicação adequada: abordar temas complexos de forma apropriada para a idade, sem sobrecarregar emocionalmente;
- Preservação da infância: garantir tempo e espaço para atividades lúdicas, criativas e espontâneas;
- Busca por ajuda: procurar acompanhamento profissional ao identificar sinais como ansiedade excessiva, comportamentos sexualizados precocemente, regressões no desenvolvimento ou verbalização inadequada sobre temas adultos.
Por Catharina Freitas